Sonho

Algum tempo se passou desde que o vi pela última vez. Lembro do que conversamos e rimos daquele encontro casual. A serenidade estava conosco, por isso, aproveitamos ao máximo aqueles cinco minutos juntos. Quando não premeditamos as coisas, elas acontecem naturalmente, pensei. Primeiro o vi passar, com as mãos no bolso e um olhar distante. Escondi-me por um instante, pois o medo de encontrá-lo, depois de tanto tempo, tomou conta de mim. Nós temos isso de vez em quando. Mas ele me viu e acenou com as mãos que agora não estavam mais nos bolsos da calça azul. Mais uma vez não sei o que dizer, pensei. Um oi, tudo bem? Como sempre. Lembrei que era assim que nos cumprimentávamos. Parecíamos mais dois amigos que dois amantes. O passado volta quando queremos e quando menos esperamos. Isso é normal, embora seja frustrante às vezes. Sentimentos e palavras que dissemos, um querer tentar mais uma vez. Não há explicação para isso. Acontece e pronto. A diferença é que agora apertamos as mãos. Olhamos dentro dos olhos um do outro. Voltamos no tempo, mas esse mesmo tempo não era nosso aliado. Tínhamos poucos segundos para saber sobre nós. O que perguntar? O que dizer? Falamos juntos. Rimos. Você está diferente, disse ele. Ah é? Estou mais velha! Não foi isso que quis dizer. Rimos de novo e assim nossos cinco minutos foram embora. Senti cada um dos trezentos segundos pingando na minha ampulheta. Não desejei que o tempo voltasse. Ele traria momentos bons, mas também traria tristeza e desesperança. Aprendi que o amor nem sempre é só felicidade. Às vezes machuca e deixa marcas que não queremos ter. Tenho todas elas, presentes em todos os lugares. Embora esquecidas, não me deixam esquecer que tudo poderia ter sido diferente se não fossemos tão diferentes. Apertamos as mãos e nos olhamos por cinco milésimos de segundo. Nunca vou saber o que ele pensou.

Comentários

Postagens mais visitadas